quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Histórias escritas em quadradinhos de papel

I.
Alguns moleques jogam futebol, a lama cobrindo suas derrotas, a chuva lavando-lhes os pés.
Enferrujando os troféus.
Porém não solubilizando a glória
Da boa e velha
Pelada de rua.

II.
Ele andava olhando para o chão. Milagres nunca acontecem, e nunca iriam acontecer, certamente, pois assim funciona o mecanismo mítico dos milagres, senão não seriam assim chamados. Assim pensava nosso cidadão, num dia qualquer, em que seus compromissos serviriam somente para preencher mais um período com nada mais que o vazio. Passo após passo, percebe nosso camarada que o ar tornara-se diferente. Respirar era diferente, havia algo mais profundo e denso do que qualquer matéria, talvez com um toque de vida e um cheiro esquisito. Foi aí que o milagre aconteceu. Choveu.

III.
Não sei como sentir o gosto do novo. Somos mal acostumados a transformar a novidade em trivial. Talvez não haja coisa nova. Todos vivemos esperando uma pessoa que se foi há mais de dois mil anos voltar, mas não fazemos nada coerente para que isso aconteça. Às vezes tenho vergonha do mundo, mas mais vergonha ainda da porcaria da raça humana, que ainda se acha superior porque possui um tal de pensamento contínuo e organizado, que enquanto criava uma maquinaria pra salvar vidas pensava em como ela poderia furar o olho do outro...

IV.
Por vezes lembro-me de algumas professoras, em aulas de redação. Foi um período de absoluto terror, pra mim. Não sei se era só comigo, mas achava que as minhas professoras pasavam por um período de falta de criatividade constante, e nós por uma vergonha constante causada por elas.
Uma vez uma delas pediu para escrevermos uma redação sobre uma pessoa com uma mania esquisita. Gente, até hoje eu não conheço ninguém com uma mania digna de ser contada numa redação. Pior é que no fim das contas a história ficou uma droga, porque tive que ouvir que a mania não era tão esquisita. Em outra vez, foi uma história de um menino numa casa abandonada(história de terror de quinta). Uma outra, troca de papéis entre mãe e filha (clichê do cinema!). Poemas pra rimar coração com paixão e amor com dor. E ainda éramos obrigados a ler para os colegas.
Acho que é por isso que as crianças não estão nem aí pra certas coisas e a educação sempre toma pau no fim do ano, porque com professoras assim a vontade de estrangular o pescocinho delas como a gente faz com galinhas caipiras não seria nem um pouco condenável.

Thandara, só.

Nenhum comentário: