terça-feira, 13 de novembro de 2007

A vida no palhacio

Se tem uma coisa que sempre me fizeram crer, é de que estaria seguro em minha fortaleza.
Dentro do palhacio não correria riscos, não seria contrariado, nem ao menos contestado.
A cada momento me lembrava o inquisitor, que não teria danos, perdas e mutilações.
E cri.
Segamente cri nisto, até que um dia, vem até mim o bobo da corte, dizendo suas besteiras costumeiras, fazendo seus truques, enganando os bons, levando-os ao riso.
Até que disse uma frase, aparentemente tola, como as demais. No entanto está ecoava em minha cabeça vazia. E fiquei a refletir, pensar, pensar, repensar....e não chegar a lugar algum.
Da minha boca não saiam palavras, meu coração não batia, só queria continuar este nada, e numa pretensão estúpida, entendê-lo.
Minha nossa, o que seria aquilo? O que ele quis dizer? O que deveria pensar eu pensar? Se nem isso sabia, muito menos agir, e só acordei quando ouvi um grito no vácuo, meu próprio grito:
- Que vá a forca este bobo!!!
Agora tinha um pensamento, o rei não deve ter pensamentos, pelo menos não deve dizê-los em voz alta.
Bom, não tinha volta, a inspiração divina não me deixava errar.
Não sorria, sufocado morria.
E minha dúvida não mais poderia ser solucionada, ao menos não por aquele homem.
Resolvo então sair de minha cela e, arriscar minha pele no estranho mundo sem minha segurança, sem garantias.
E somente uma dúvida me levava a seguir, uma necessária experimentação, nunca uma solução.
Ninguém sai em busca de soluções, pode até as desejar, porém sem certeza alguma. A solução não é o ponto de partida, e sim de morte.
E a voz do "palhaço" não saia de meu corpo, e a bobagem não saia de mim.
Eis que saí, passei por um jardim qualquer, cheguei a um precipício, o qual pude olhar abaixo e ver que nem em sonho viveria se caísse dali, um pequeno escorregão e toda minha vida acabaria, numa queda fatal.
Me viro rumo a sobrevivência, e qual não é a surpresa da coincidência quando tropeço, de costas me inclino para o buraco e com todas minhas forças seguro na pedra mais próxima.
Há dor, mas não me importo. Que me importa mais? Um dedo quebrado ou um crânio esmagado?
Num primeiro momento, quis voltar ao lar doce lar, decidi esperar um pouco mais, pois me lembrei do ilustre palhaço dizendo: -"Qual é o valor da vida sem a morte?"
Entendi que a vida só tem valor em face da morte, pois sem a morte, sem os riscos, não há vida.
Vivi boa parte de minha vida sem perigo, sem errar e vi que na verdade não vivi, apenas existi, e nem para mim o fiz.
Talvez se tivesse sido levado pelas bravas águas do rio que não nadei, teria pensado em aproveitar cada tempo, ou se tivesse sido picado pela cobra que nunca vi, teria me perguntado o que havia feito da minha vida até aquele momento.
É a vida cheia de quases que nos faz contar histórias maravilhosas, nos faz respirar fundo, olhar para o céu e ter de volta a admiração que perdemos a cada acomodação.
São os riscos que nos fazem enxergar a vida, que nos faz querer viver.

R. A. (Rei Anão)

Um comentário:

Anônimo disse...

O Rei Anão já está bem crescido...